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O caos sonoro e sem rótulos de Eduardo Martins na linha de frente do Chaotic System



Eduardo Martins integra hoje uma das bandas de grande referência no cenário extremo underground do Brasil, o Chaotic System. A banda lançou recentemente seu primeiro "full lenght", o álbum "Rise" em todas as plataformas de streaming via Electric Funeral Records.  Conhecido pelas mensagens contundentes em meio a sonoridade agressiva, o disco que contém 14 faixas entre inéditas e regravações de músicas presentes nas primeiras demos no início da carreira da banda, é uma pancada digna de atenção e que merece respeito.  Eduardo apresenta uma potência sonora sem limites em seu baixo e vocal, formando uma música sem rótulos e fazendo arte como deve ser; atemporal, livre, que conecte emoções, lembranças ou sentimentos, independente do que for.   Conhecido pelas mensagens contundentes em meio a sonoridade agressiva, o música canta letras contundentes recheadas de crítica político/social contra o sistema. Conversamos com o músico sobre trajetória, influências musicais, processo de composição e outras curiosidades. Confira.


Você e o Chaotic System apresentam uma dinâmica forte e música intensa. Como que funciona a parceria de vocês como músico e amigos dentro do projeto?

R - O segredo consiste nos seguintes ingredientes: anos de amizade e afinidade. Gostamos basicamente das mesmas coisas, temos a mente muito aberta em relação a música, temos objetivos muito claros e semelhantes, seja com o Chaotic ou com a vida pessoal. Magno é mais a energia bruta, ele traz praticamente tudo pronto e eu já entro com os detalhes, reparos aqui e acolá, ajudo nas letras... Conversamos bastante e isso também é outro segredo para que as coisas aconteçam de forma natural. Foi por causa dele que comecei a cantar no Chaotic System. Ele quem me encorajou. No próximo disco, que já estamos escrevendo, vem mais material meu, mais vocais e vai ser legal.


Dentro do cenário do metal extremo nacional, você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção?

R - Admito que ando muito afastado do cenário extremo, não costumo ouvir tanto. Vejo coisas pelas redes sociais mas não é o mesmo que dissecar um disco pra emitir uma opinião. Obviamente há bandas em destaque porque o Brasil é muito forte nisso, mas não sou capaz de apontar uma em específico. Já no cenário mundial, nada tem me chamado atenção no cenário extremo há anos. Acredito que há uma repetição das mesmas idéias, uma certa saturação e naturalmente me afasto. Agora, se for apontar pro que chamam de "metal alternativo", fico com os veteranos do Neurosis e o Kylesa.

Que dica você daria a músicos brasileiros que tem medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas dentro da música extrema?

R - Simplesmente não ter medo de se prender a rótulos e formatos mas, antes de mais nada, é necessário ter a mente aberta e ter convicção do que se faz. Música pra mim é arte e como tal deve ser atemporal, livre, que conecte emoções, lembranças ou sentimentos, independente do que for. Raiva? Catarse? Amor? Não importa. Se o músico tiver a antena ligada, ele vai buscar outros elementos e vai inserir ao som dele. É que nem o mestre Chico Science falava, "antena parabólica fincada no mangue". Nossas principais influências são de bandas que arriscaram, botaram a cara pra bater. Somos de um país extremamente rítmico e essa linguagem tem tudo a ver com sons extremos.


Qual modelo de baixo, cordas e amplificadores você usa? Conta pra gente a relação de amor com seu instrumento.

R - Meu diabo verde? hahaha Uso o bom e velho Strinberg, de cinco cordas que comprei por pura coincidência, demorei anos pra entender a tal quinta corda (rsrsrs). Descobri que o baixo é da Alemanha quando levei pra regulá-lo antes das gravações do disco. Ele me acompanha por quase 20 anos. Costumo usar cordas de calibre de 0.45 polegadas e particularmente gosto da combinação cabeçotes Harke com caixas Gallien Krueger. Nas gravações não usei Hartke mas o Gallien tava lá. São presets que me entregam brilho e peso ao mesmo tempo. Sobre o baixo. Quando eu era moleque - e acredito que seja assim até hoje - todo mundo ficava mais atento ao baterista e aos guitarristas, comum em qualquer subgênero do rock. Só que não rolou comigo e a culpa é do Steve Harris e do Geezer Butler. Quando escutei baixistas tocando alto, fazendo progressões, jogando "pro ataque" eu pirei. Depois veio a descoberta do Cliff Burton, que foi uma puta quebra de paradigma: como um baixista pode fazer aquilo? Solar? E tocar naquela precisão e rapidez com as mãos? Bom, na sequência descobri Lemmy Kilmister (que era maravilhoso e criou o som extremo pra mim), Geddy Lee e Jaco Pastorius. Naturalmente me interesso por bandas com baixistas "altos" e power trios, como o Primus e as bandas pós-punk por exemplo. Também acredito na influência indireta da black music, do soul: meu pai ouve muito som da Motown e, pra quem conhece, sabe que o groove é alto, baixo no talo, Kool and the Gang, James Brown, Steve Wonder, Earth Wind and Fire, Jackson V....

Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior baixista e vocalista de todos os tempos?

R - Muita gente mas vamos lá: Napalm Death (todas as suas fases pra mim são interessantes), Sepultura (na verdade todos os projetos do Max Cavalera), Rush, Black Sabbath, Paco de Lucia e Tomatito (guitarristas flamencos), Vitor Ramil, Ramones, Motorhead, Metallica, Slayer, Muddy Waters, Nação Zumbi, Titãs, Zé Ramalho, a galera pós punk como Sisters of Mercy, New Model Army... O maior baixista/vocalista de todos os tempos na minha humilde opinião é o Geddy Lee, da minha banda predileta, o Rush. Tenho que fazer menção honrosa a Jack Bruce, do Cream. Era excelente e abriu o caminho pra todos que vieram depois.


Suas linhas de baixo demonstram peso, rapidez e técnica. Como que se da o processo de composição delas?

R - Muito obrigado! Então, eu primeiro preciso tocar os riffs, entender como se dá a dinâmica da guitarra com a bateria, saber a sequência de acordes, as tonalidades, pra poder montar minhas linhas. Procuro "conversar" mais com a bateria, afinal é a parceria da "cozinha" né? Por falar nisso, podemos usar aqui a analogia da comida: você precisa saber por o tempero certo pra não estragar o sabor. Pra que descer uma escala quando a música pede outra coisa? Tento sempre manter o equilíbrio entre trazer peso/volume e enriquecer com linhas mais elaboradas.


Como a música surgiu em sua vida?

R - Venho de um lar muito musical mas ninguém tocava instrumento! (rsrsrs) Acho que eu fui o primeiro da família a tocar alguma coisa! Pois bem, quando você é criança vai muito por osmose né? Meus pais sempre foram ecléticos e tinha uma coleção generosa de samba de raiz que se escutava bastante. Muita gente fica assustada porque conheço Almir Guineto, Fundo de Quintal, Jovelina Pérola Negra e ainda canto as letras todas. Mas se escutava todo tipo de música, de Elis Regina a Dire Straits, Elton John, James Brown, Tim Maia pra cacete, Rock BR, MPB, aqueles pops dos anos 80... Muito rádio também né? A coisa mudou mesmo quando meus pais me apresentaram o Queen numa reprise na TV uns dois anos antes da morte do Mercury. Era o tal show de 1981 em São Paulo. Acendeu o alerta de cara. Depois veio o Rock in Rio de 91, MTV estreando no Brasil, aquela overdose de rock and roll e a antena captando tudo. Outros dois fatores marcantes pra encurtar o papo: meu pai criticando os Guns and Roses (que eu adorava) na TV: "po, esses caras tão imitando Page e Plant", e lá fui eu fuxicar Led Zeppelin. Paixão a primeira vista. Pouco tempo depois, eu e um amigo achamos um vinil sem capa no lixo repleto de marcas de velas. Vimos o nome Ozzy, catamos e corremos pra ouvir. Era o "Paranoid" do Black Sabbath e não sabíamos do que se tratava. Pronto, abriu-se a caixa de Pandora. Já a vontade de tocar instrumento foi natural: eu já era fissurado por fazer um som, via os moleques mais velhos com violas na mão na escola e fui atrás por conta própria. Sou autodidata e o punk rock me ajudou demais nessa empreitada, lembro de ter tirado o "It's Alive" do Ramones todo contente e o "British Steel" do Judas Priest logo depois. Pra não dizer que nunca tive aulas, estudei guitarra flamenca (violão aqui no Brasil) por alguns meses há mais de dez anos atrás.


Tem algum show na história do Chaotic Sytem que você ache que foi o melhor show? Algum em especial que sempre lembrará?

R - Infelizmente não tive a oportunidade de fazer show porque entrei na banda no momento em que estávamos apenas compondo e produzindo mas espero poder fazer shows em breve. Outro fator que atrapalhou os planos de fazer uma tour foi essa pandemia também. O show que eu mais gostei do Chaotic System na verdade eu estava de espectador, quando abriu pro Agathocles aqui no Rio de Janeiro. Foi legal pra caramba. Jamais imaginei que estaria na banda.


Confira o disco "Rise": https://spoti.fi/345bI2Y


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